Costelas Felinas entrevista o autor miau Diego Fernandes Moreira
No momento, pouco. Devo chegar
atrasado para essas novas virtualidades. Ainda estou
procurando a saída de outras mais antigas...
2. Sua obra passou por alguma mudança significativa desde o primeiro rascunho?
Penso que não. O andamento foi
se mostrando naturalmente, sem grandes alardes. Poemas e rascunhos escritos e
guardados ao longo de dez anos, mais ou menos, se juntaram a poemas e rascunhos
mais recentes. Entre eles, foram se mostrando algumas correspondências e,
depois de um dedicado trabalho de apuro, os textos foram se
convergindo para um mesmo andamento.
3. A obra O Mar Revolto Debaixo da Cama traz textos concisos e por isso fortes em sua apresentação. Como foi elaborar uma obra pequena em tamanho, mas grande em seu significado?
Foi o que eu disse
anteriormente: os textos foram se convergindo naturalmente e, no final, sobrou
apenas a raspa do tacho, ou seja, o que sobra da
maior parte da vida: pouco a se falar.
Pelo que me recordo, além das
leituras, posso destacar que o fator cinemático teve significativo papel na
composição da série, inclusive no último poema, donde o título da obra foi
tirado. Estava, na ocasião, tão imerso na questão do
cinema que só admitia escrever algo que
já trouxesse consigo uma trilha sonora...
5. A primeira parte da obra traz a frase: “Quem, primeiro, assumirá o medo em confirmar sua humanidade?” – que sintetiza muito bem o que vivemos no mundo atual. O que faz suas pequenas frases tornarem-se tão abrangentes?
Esta resposta é algo que me escapa... Em um
aforismo publicado no livro O Último Estranho, escrevi: “Não é a feitura do
poema que o anima, mas a leitura feita pelo outro que o descola,
necessariamente, de sua autoria basilar”. É quando o autor perde o nome,
desaparece por completo de sua própria expressão. Resta-nos, então, a
ressonância e a elasticidade crítica dos
outros manejos.
6. Escrever uma obra é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?
Os dois, com certeza. E não
seria absurdo dizer que, em muitos casos, no que concerne tal questão, criamos
um “monstro” em nosso próprio quarto e, em certo momento, não sabemos mais como nos separarmos dele...
7. Toda obra é minimalista, até mesmo a capa. Qual a intenção disso?
Na verdade, não tive a intenção de fazer uma obra
minimalista. Só não consegui ir mais além. Em certo momento, percebi que ela se
fechava ali: numa série de dez poemas, divididos em duas partes. O conjunto se
bastava por si só, tendo ritmo e forma confluídos.
8. O que os leitores encontrarão na obra O Mar Revolto Debaixo da Cama?
“Vidas que anseiam por bastar em curta melodia...”
Não arrisco dizer mais. Não arrisco escancarar as portas ao
leitor. Ali, deve-se entrar assim: pelo caminho estreito...
9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?
Agora mesmo, para escrever
esta resposta. Bloqueios fazem parte da minha vida, não somente na escrita, mas
também no trato com as pessoas. Por isso, não diria agora que tenha superado
tal questão. Tive de aprender, na marra, a conviver com eles.
10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?
Não duvide: é bem provável que, no final da sua vida, todos os seus leitores caberão num banheiro de 2m por 1m.
“DEUS, NOS ACORDE...”
Deus, nos acorde... Tire-nos deste pesadelo!
Quem, primeiro, vai colocar o pé no chão?
Quem, primeiro, assumirá o medo em confirmar sua humanidade?
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A GEORG TRAKL
Vedado, afinal, pelo dourado das encarnações...
Sempre nas vésperas da ardência, do romance...
O homem perdido na floresta em vapor.
Não trago o segredo de um sonho sem altitude.
Sempre d’outro lado a centelha da promessa...
Ouves o grito sem a exclamação da luz?
Acoberto no sonho as almas d’orvalho gelado...
O poente sem extensão... Glória de sussurros!...
Poemas do autor Diego Fernandes Moreira