ENTREVISTA MIAU - Carlos Alberto Bittar Filho para Costelas Felinas Editora

 Costelas Felinas entrevista o autor miau Carlos Alberto Bittar Filho 

1. As mídias sociais desempenham um papel para você como autor?

R.: Apesar do papel que as mídias sociais desempenham no mundo de hoje, posso dizer que sou um poeta “das antigas”, pois elas não exerceram, nem exercem nenhuma influência sobre meu trabalho poético.

2. Suas obras Experiências Concretas e Novas Experiências Concretas passaram por alguma mudança significativa desde o primeiro rascunho?

R.: Posso dizer que sim. Quando tenho alguma inspiração para produzir poesia concreta, primeiramente faço um esboço em papel. Deixo os esboços por algum tempo “decantarem”, por assim dizer, e passo a tentar passá-los a limpo no computador. Aí é que efetivamente vejo se as potenciais obras são, ou não, factíveis, mantendo-as ou descartando-as.

3. Nos livros “Experiências Concretas” e “Novas Experiências Concretas” a linguagem se expande para além do universo gráfico. Como você disseca essas soluções poéticas?

R.: Nesse ponto específico, foram de grande valia as referências bibliográficas constantes do final de cada livro. Foi a partir da leitura daquelas obras e da reflexão delas decorrente que pude finalmente conceber as soluções poéticas que você menciona. Além disso, obviamente, vai uma boa dose de criatividade e de brincadeira com o nosso idioma.

 4. O que inspirou o título da obra?

 R.: Em ambos os livros o grande elemento inspirador foi a experimentação poética, ou seja, a ação da criatividade sobre a língua portuguesa, como que em verdadeiras experiências laboratoriais.

5. Conte-nos sobre a repercussão de seu premiado trabalho poético na literatura Contemporânea.

R.: Bem, essa repercussão é a realização de um velho e acalentado sonho, que remonta a meus verdes anos de juventude. Poder trazer alguma contribuição positiva para nossa literatura é, por si só, um imenso regozijo.

6. Escrever uma obra é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?

R.: É como um trabalho de parto natural, com uma mistura, entre contraditória e complementar, de fascínio e exaustão.

7. Outras duas obras publicadas conosco: “Gotas de Humanidade” você trabalha com precisão haicais guilherminos. Fale-nos da técnica em construir esse tipo de haicai. Já na obra “Gotas de Natureza” o haicai tradicional se destaca. Como é, para você, manipular o poder de síntese e a impessoalidade dos haicais.

R.: O haicai guilhermino, que compõe a tessitura de “Gotas de Humanidade”, é o feliz equilíbrio entre o Parnasianismo e o Modernismo, dois movimentos literários que muito influenciaram meu estilo de escrever. A composição do haicai guilhermino é como a concepção de um microssoneto, apresentando como elementos norteadores: a) três versos (dois pentassílabos e um heptassílabo); b) título; c) rimas interpoladas, externas e internas.

Em “Gotas de Natureza”, os haicais componentes são tradicionais, vazados em Português, mas diretamente influenciados pela estética japonesa, a qual preconiza três grandes eixos para a criação poética: a) forma; b) corte; c) palavra de estação (kigo). Dos haicais tradicionais estão ausentes tanto o título, quanto as rimas.

Para mim, o poder de síntese é a motivação maior para escrever haicais, pois que meu estilo de escrita é por demais sintético. Quanto à impessoalidade, quando concebo um haicai, converto-me em fotógrafo da realidade, o que me apraz deveras.

8. O que os leitores encontrarão nas obras Experiências Concretas e Novas Experiências Concretas?

R.: Os leitores poderão experimentar outras formas de expressão no idioma português, além da estritamente convencional. Verão empregada de novas maneiras a língua de que se servem cotidianamente. Poderão observar que o Português tem insuspeita carga visual.

9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?

R.: Sim, infelizmente já tive essa experiência. A superação, que não foi nada fácil, veio com a insistência em procurar a saída através da leitura, da reflexão literária e de viagens inspiradoras.

10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?

 R.: Insista, persista e nunca desista.


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Abaixo 04 poemas do livro Experiências Concretas