ENTREVISTA MIAU - DANIELA GENARO para Costelas Felinas

 Costelas Felinas entrevista a autora miau Daniela Genaro

 

1As mídias sociais desempenham um papel para você como autora?

As mídias sociais representam para mim uma forma de ter acesso a informações sobre eventos e concursos literários, divulgar esporadicamente algum poema ou mesmo alguma conquista literária e, principalmente, entrar em contato com autores que não aparecem nas mídias tradicionais.

 2. Seu livro passou por alguma mudança significativa desde o primeiro rascunho?

Meu livro “Poesia de Retalhos” é constituído pela reunião de alguns poemas escritos ao longo da minha jornada. Fui construindo mentalmente aos poucos a estrutura do livro. Decidi então usar agulhas e linhas, ambas imaginárias, para unir um poema a outro e uma geração da minha família a outra. Abri o livro com um poema do meu pai e fechei com um poema da minha sobrinha. E para finalizar pedi à minha filha que elaborasse a capa.

 3. A atividade de professora permite trabalhar a poesia entre os alunos?

Permite sim, porque quando a gente gosta muito de algo, quer dividir esse encantamento com o mundo inteiro. Já organizei, juntamente com outros professores, antologias escolares compostas por escritos e desenhos elaborados pelos estudantes. Já estimulei a participação dos alunos em concursos literários. Já levei, com alunos e professores, garrafas com rótulos poéticos para a feira livre, integrando o projeto nacional “Transvê Poesias”. E até já iniciei a aula com um minuto poético, quando os alunos podiam ler um poema antes de começarmos nossos estudos. Por incrível que pareça, meu componente curricular não é Português e sim História. Entretanto, como a poesia mora em tudo, a depender do nosso olhar, peço uma licença poética todos os anos para trabalharmos versos ao mesmo tempo em que trilhamos caminhos históricos.

 4. O que inspirou o título de sua obra?

“Poesia de Retalhos” foi inspirado tanto pela essência do livro, a reunião de alguns poemas escritos em diferentes momentos e sobre diferentes temas, quanto pelo poema “Sou feita de retalhos” de Cris Pizzimenti, atribuído muitas vezes a Cora Coralina.

5. A obra Poesia de Retalhos teve a participação familiar (revisão de seu pai e capa elaborada pela sua filha), como foi este trabalho e qual a sensação de um projeto assim?

Poesia pra mim remete à família. Cresci ouvindo meu pai declamar poemas consagrados e também autorais e a minha mãe citando versinhos aprendidos nos tempos de escola e sabidos de cor. Achava lindo tudo aquilo e daí veio a curiosidade para ler e escrever poemas. Quando dei conta, estava eu lá, adulta, declamando para os mais novos. Assim, não poderia compor um livro sem um poema do meu pai, tão decisivo na minha inclinação literária, e da minha sobrinha, certamente influenciada por essa atmosfera literária um tanto familiar. Para a minha mãe dediquei a obra, saudosamente, a ela que escrevia poemas de um modo diferente ao bordar lindas telas. Acho que foi dela que a minha filha (Marina Genaro), a quem deleguei a tarefa de compor a capa do livro, herdou a aptidão para o desenho.

6. Escrever é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?

Para mim escrever é um ato fascinante. Cabe ressaltar, entretanto, que a escrita é um hobby no meu caso. Um hobby sério, é verdade, quase uma segunda profissão, mas desvinculado de um valor monetário. Acredito que escrever profissionalmente tenha um lado exaustivo como em qualquer outra atividade profissional remunerada. Porque daí entram os prazos, a pressão para que a criatividade esteja sempre em alta, o desgaste da rotina e as exigências do mercado cultural.

7. Nos fale de como a poesia e a literatura em geral podem expandir a consciência das pessoas.

A literatura e a poesia contribuem para o autoconhecimento e para a possibilidade de vivenciar outras realidades, ampliando a empatia e com ela a consciência de si e dos outros. Outras modalidades artísticas também desempenham esta função. A diferença é que no caso da literatura e da poesia há um espaço talvez ainda maior para a criatividade na medida em que tudo precisa ser recriado pela nossa imaginação a partir da palavra.

 8. O que os leitores encontrarão em de Retalho de Poesia?

“Em Poesia de Retalhos” os leitores encontrarão lembranças, vivências, casa de avós e sítio de nonos, colo de mãe e saudade, companhia de pai. Encontrarão filha, marido, sobrinha e irmã. Encontrarão familiares e amigos, gato, cachorro, peixe e passarinho. Encontrarão a infância e a maturidade, o entardecer e o novo dia. Em síntese, encontrarão o que há de mais comum e mais cotidiano na aventura humana. E que possam assim encontrar um pouco de si no que de tão meu escrevi, abraço.

 9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?

Os bloqueios criativos e os momentos de inspiração se alternam para mim. Não há um padrão. Às vezes, parafraseando Adélia Prado, olho pedra e vejo só pedra por semanas e de repente tenho um dia em que várias coisas me inspiram. Outras vezes me mantenho inspirada por um tempo e depois experimento uma fase em que não consigo produzir. Geralmente, fica mais difícil criar quando a vida está corrida. Costumo achar as férias muito inspiradoras e aí fica impossível não lembrar do ócio criativo tão espetacularmente apresentado por Domenico de Masi.

 10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?

Escreva e engavete. Depois de um tempo, abra suas gavetas e releia os seus escritos. Caso continue achando bom o que escreveu, publique. Talvez o valor preservado seja um sinal de que outras pessoas gostariam de ler o que você escreveu.

LEIA ABAIXO AS  RESENHAS DA OBRA 

Poesia de retalhos – Daniela Genaro – SP: Costelas Felinas, 2023, 64 páginas.

👉Folhear as páginas desta obra literária é tal qual passar as folhas de um álbum de família. Envolvendo várias épocas da vida de pessoas queridas já falecidas. E outras que chegaram tempos depois (filhos e netos). Uma poética de agradável leitura.
Temos alguns instantes filosofais e outros de uma emoção plena de sentimentos e de ensinamentos de vida. Daniela Genaro consegue através dos versos rever os devaneios infantis, os sonhos da adolescência, as obrigações da fase adulta e o momento da velhice com um olhar panorâmico a respeito de tudo que foi vivido, entre alegrias e tristezas. Tudo num clima bucólico. A meninice está presente em todo o livro. Ela vai construindo as estrofes, os versos, as rimas. Um diálogo com a linha da vida e o tecido dos sonhos.
A autora já participou de várias coletâneas e desta feita a bela estreia em livro individual. Que venham outros bons livros de sua autoria. Poesia em retalhos serve de brinde aos amantes da leitura suave de poesias!   

😀Por Carlos Frederico (publicada no Boletim Ibérico)

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👉Nesta obra, caro leitor-criança, há de se imaginar nostalgicamente permeado por aquela sensação típica da infância: “numa manhã chuvosa, você se levanta, mas se vê impossibilitado de ir à escola, então, o coração bondoso de sua mãe, o faz ir ao sofá assistir desenhos animados. Enquanto se vê entorno daquela manta tricotada pela vovó, sua mãe logo te leva aquele chocolate quente” e o retrato da infância feliz se concretiza.

E como retalhos emendados poeticamente, Daniela Genaro percorre as variadas fases da vida com pensamentos e sensações em forma de verso. Interessante notar que o poema que dá título ao livro, detalha que apesar dos afazeres da vida adulta, a arte e a escrita vai sempre habitar o coração de uma poetiza feliz. “Faço poesia com os retalhos/ do tempo que sobra do trabalho/ Assim, vou alinhavando palavras,/ remendando versos,/costurando estrofes./E entre os panos que embaralho/eis a poesia-espantalho.”

A metáfora por trás de “A linha e a agulha”, de Machado de Assis é o fio condutor de poemas como “Berço de crochê”, “Espantalho”, “Novelo” e “Poesia de Retalhos”.
Novelo
Não voltarei a vê-lo
Novelo de saudade,
Longo o fio da eternidade.

😀Por Alex Maktub (publicada no Triliterárias)