R- Amores Improváveis é o meu oitavo livro e quatro deles flutuam pelo Realismo Mágico. A possibilidade de me livrar das amarras do tempo e do espaço e mesmo das formas literárias rigorosas é um dos estímulos parara eu seguir pelo caminho da fantasia.
Nestes doze contos da obra fui buscar informações no inconsciente e as codifiquei na materialidade do livro. Orientei-me muito pelo texto de Jorge Luis Borges, parte dele:
“Quando os relógios da meia noite prodigarem
Um tempo generoso,
Irei mais longe que os vogas-avante de Ulisses
À região do sonho, inacessível,
À memória humana”.
À região do sonho, é lá que estão minhas fontes de informações ainda caóticas.
Dar forma ao caos, para mim, é o fundamento do ato criativo.
2- Como foi o processo de construção dos elementos simbólicos e metafóricos na obra?
R- As informações já estavam caoticamente em meu inconsciente, a materialidade da obra foi organizar os símbolos para dar alguma credibilidade ao discurso narrativo.
No seguir de cada um dos contos libero meus personagens para vivenciarem as estórias. Neste sentido há alguma aproximação com a estrutura narrativa do teatro, onde os personagens vivem a cena.
3-Existe algum conto que você considera o coração do livro? Por quê?
R- Todos têm a mesma dinâmica; buscar a criatividade no caos inconsciente, adequar os símbolos para a estrutura narrativa e dar materialidade ao livro, esse é o caminho de todos os contos, mas vou mencionar apenas um que me parece o que melhor percorre o universo fantástico. É o conto que dá título ao livro, Amor Improvável, no qual um personagem da vida real, ao visitar uma galeria de arte se apaixona pela artista de um dos trabalhos tópicos e vai viver dentro da tela uma relação de amor com a artista. Mas esse amor se revela impossível, É uma grande verticalização no mundo fantástico.
4- Que tipo de leitores você tinha em mente ao escrever Amores Improváveis?
R- O autor sempre quer todos, mas me dá melhor sabor aqueles que lutam com todas as suas energias para viver uma paixão que se mostra impossível. Para o leitor que não importa não conseguir seu objetivo, mas ele não pode deixar de perseverar. Como na tragédia, é a luta contra o destino, do qual não se ganha, mas a vitória é a perseverança.
5- Você enxerga seus personagens como vítimas ou cúmplices da realidade mágica que os cerca?
R- Os personagens de todos os meus livros, que se tornam verossímeis apenas no Realismo Fantástico não são entendidos como vítimas nem cúmplices. Talvez o fossem em uma estrutura mais adensada à realidade, mas na minha fantasia eles são apenas caminhantes de um destino e para eles não importa vencer o destino, mas a liberdade de lutar contra ele.
É muito comum, com o encaminhamento do fluxo narrativo, os personagens se rebelarem contra o próprio autor e é uma luta complicada, pois às vezes acontece dos personagens estarem certos e o autor tem que rever a narrativa.
6- Como você vê o diálogo entre sua obra e a transição do realismo
mágico latino americano?
R- O Realismo Mágico teve o seu maior momento em meados do século XX, principalmente nas décadas de 1960 e 1970 como resposta aos movimentos ditatórias na América Latina. Mas a literatura mágica surge como reação, sempre que há algum período de medo e repressão, em todas as partes do mundo e em tempos diferentes. É uma interferência do mágico, fantástico na realidade velada.
Na América Latina podemos mencionar Gabriel Garcia Marques, Machado de Assis, Alejo Carpentier, Isabel Allende, Julio Cortazar, Jorge Luiz Borges e para não me alongar muito menciono apenas Franz Kafka fora do continente americano.
Quero atentar também que o universo fantástico às vezes sai das páginas literárias para ganhar as telas do cinema e TV, como foi o caso da série televisiva Cem Anos de Solidão. Os meus contos e romances são signatários desta tradição, mas quase sempre voltados para o universo mais urbano, em busca do verossímil e não da verdade total.
7- Como você define o “improvável” no caso do amor?
R- O “improvável” é porque o amor é verossímil no fantástico, mas como na tragédia, é uma luta contra o destino e como tal é importante buscar o amor enquanto paixão, mas o destino trágico é implacável.
8 - Teve alguma história que lhe deu mais trabalho para escrever ou finalizar?
R- Sempre termino meus textos bastante extenuado, mas um dos contos, Pastor, Abjeto, foi o que me deu maiores preocupações pela identificação maior com a realidade. Tive vontade de cancelar este conto, mas achei que estaria fugindo a um conflito necessário na minha opinião.
9-Os contos foram escritos em um mesmo período ou em fases diferentes da sua vida?
R- Todos eles foram escritos em aproximadamente dois anos recentes, mas eles se referem a períodos diferentes da minha vida.
O conto Roda Gigante, apenas como exemplo, é recente e foi escrito em um dia, no parque onde eu fui ver uma exposição imersiva. Ao lado da exposição, em um dia muito frio e nublado havia uma roda gigante, cuja metade superior estava escondida por densa neblina. Uma jovem muito bonita entrou naquela neblina (e isso é realidade) e desapareceu para viver outras possibilidades fantásticas.
Acabou que eu não fui ver a exposição.
10- Já pensou em transformar algum desses contos em roteiro para cinema ou teatro?
R- A literatura e o cinema são dois suportes narrativos de grande identificação e eu gostaria de roteirizar os contos Roda Gigante e Amor Improvável, exatamente pelas suas características narrativas em filme ou série. Talvez eu o faça.
Para o teatro não acredito, teatro é ação presente e tem alguma dificuldade em aceitar o elemento narrado.
Mas, mesmo para a dificuldade narrativa do teatro há boas exceções. Já vi alguns mestres da literatura serem adaptados para o teatro, mas repito, sempre considerados no campo das exceções.
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