ENTREVISTA MIAU - Carlos Carvalho Cavalheiro para Costelas Felinas Editora

 



Costelas Felinas entrevista o autor Carlos Carvalho Cavalheiro

1. As mídias sociais desempenham um papel para você como autor?

Eu reconheço a importância das mídias sociais, incluindo as redes sociais da internet, como grandes divulgadoras de minha obra. Eu já vendi livros, por exemplo, para pessoas de outros estados do Brasil, pessoas que sequer me conhecem pessoalmente, por conta de divulgação das mídias e nas redes sociais. No entanto, eu não tenho perfis em redes sociais, com exceção do WhatsApp. Mas procuro divulgar minha obra enviando releases aos órgãos de imprensa que mantém páginas na internet. Então, para o meu propósito, isso tem funcionado. Também as editoras parceiras com quem publico, como é o caso da Costelas Felinas, dentre outras, que acabam ajudando nessa divulgação e, até mesmo, estabelecendo contatos com os leitores.

2. Sua obra passou por alguma mudança significativa desde o primeiro rascunho?

A ideia da obra surgiu da produção de um folheto em parceria com a artista plástica Flávia Aguilera. Nós fizemos um livro juntos, a biografia da Menina Julieta Chaves, publicada pela Editora Crearte. Colocamos a obra para concorrer ao Prêmio Sorocaba de Literatura e fomos agraciados. Em contrapartida, propusemos um passeio pelo cemitério da Saudade, em Sorocaba, onde se concentra boa parte dos chamados milagreiros de cemitério da cidade. Daí, fizemos esse guia o qual pensamos em ampliar. No entanto, devido aos compromissos da Flávia, que sempre está envolvida em diversos projetos, eu toquei sozinho essa ideia. E o resultado foi esse livro. 

3 Como você descobriu esses santos e milagreiros não reconhecidos em Sorocaba e o que te motivou a escrever sobre eles?

Isso vem de tempos, das histórias que ouvíamos quando crianças na cidade. Mas, é fato, o trabalho anterior com a Flávia Aguilera ampliou o meu conhecimento sobre alguns desses milagreiros cuja história eu desconhecia. Por exemplo, a do Anjinho Emerson.

4. O que inspirou o título da obra “O Sagrado e o Além Túmulo, Milagreiros e Santos Profanos de Sorocaba”?

Ah, o título se tornou óbvio (risos). Em verdade, eu gosto de estudar e trabalhar com esse tema do sagrado, daquilo que consideramos como pertencente a uma esfera superior a nossa, um lugar de esperança e de restabelecimento de uma parte que nos constitui enquanto humanos e que muito se aproxima da conexão com a arte, por exemplo, ou qualquer outra manifestação sublime. Ao perceber que muitas pessoas recorriam a esses santos de cemitério – fenômeno que se observa não somente no Brasil, mas em diversos outros lugares do mundo – como a última esperança para a resolução de suas angústias, entendi que o sagrado também abarca essa percepção da continuação da existência além túmulo. Daí o título.

5. Quais foram os critérios que você utilizou para identificar e validar os relatos de milagres atribuídos a esses santos locais?

Não vejo esse como um dos objetivos do livro. A ideia não é a de validar ou não os milagres. Certamente eu não teria essa competência. A proposta do livro é debater a existência dessa crença por um número significativo de pessoas e produzir algumas informações biográficas desses milagreiros de cemitério. O livro não discorreu sobre os milagres que supostamente foram realizados, mas tratou do fenômeno numa perspectiva histórica e, até mesmo, sociológica.

6. Escrever uma obra é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?

R: Eu acho sempre fascinante. Isso porque eu não escrevo aquilo que não me interessa. Em outras palavras, sou um escritor independente e isso significa que sou livre para escrever aquilo que me motiva e não o que pode vender e gerar lucro. Lembra-se da primeira pergunta desta entrevista? Esse é, talvez, um dos motivos pelos quais eu não me preocupo em manter redes sociais. O objetivo primordial não é lucrar com o trabalho de escritor, pesquisador e historiador. Mas realizar os trabalhos que são significativos para mim. E, por esse motivo, a exaustão – que existe sim – não tem força dentro do meu trabalho.

7. Como você acredita que a falta de reconhecimento por instituições religiosas afeta a devoção e a fé das pessoas que acreditam nesses santos e suas histórias de milagres?

Eu não creio que a falta de reconhecimento das instituições religiosas influencie na devoção dos fieis. As pessoas que recorrem aos santos de cemitério o fazem com ou sem a permissão de instituições religiosas. Agora, as instituições, penso, têm o direito de criar suas regras. Seguem-nas quem assim queira fazer. Por exemplo, no caso da Menina Julieta, quando fiz a biografia dela juntamente com a Flávia Aguilera, nós fizemos questão entrevistar o arcebispo que foi claro e transparente em dizer que a Igreja Católica não era contra a devoção à menina, mas que ela dificilmente poderia ser canonizada porque os que viveram em sua época não deixaram testemunhos que pudessem embasar um processo como esse. Por exemplo, não se sabe se a família dessa menina, e principalmente ela, era católica praticante. Isso inviabiliza o processo de canonização.


8. O que os leitores encontrarão em “O Sagrado e o Além Túmulo, Milagreiros e Santos Profanos de Sorocaba”?

Um estudo que tenta entender a origem dessas devoções a santos ou milagreiros de cemitério, desde os primórdios da humanidade, e como isso se desenvolveu numa cidade do interior paulista, a saber, Sorocaba. Tem de tudo um pouco.

9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?

Acho que todo escritor depende da inspiração para realização de sua obra. Eu já tive bloqueios sim, os chamados bloqueios de escritor ou de autor, especialmente para as poesias, pois sou poeta também. Não disse que sou bom poeta, mas apenas poeta (risos). Eu tenho, talvez, uma vantagem que é a multiplicidade de gêneros com os quais eu transito na arte literária. Eu tenho trabalhos de ficção como contos de humor, poesia, romances... Aliás, meu primeiro romance foi publicado pela Costelas Felinas também: “Entre o sereno e os teares”. Mas eu sou ainda historiador, poeta, pesquisador de cultura popular paulista... Então, quando estou bloqueado para a poesia, eu parto para uma pesquisa histórica, por exemplo. Mas, creio, a ideia é não se desesperar quando a inspiração estiver ausente. Ela sempre volta. Basta continuarmos vivendo.

10. Você já ganhou alguns prêmios literários, inclusive com uma obra editada por nós. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?

Sim, o romance “Entre o Sereno e os Teares” foi contemplado com dois prêmios. Porém, isso deve ser sempre levado como consequência e não objetivo. A felicidade não está em ser ou não premiado, mas em se fazer aquilo que realmente acredita. Ao fazer isso, a satisfação pessoal já é o grande prêmio. Participar de concursos literários é importante para exercitarmos a nossa criatividade e, ainda, para aprimorar a nossa escrita. Todas as vezes que não consigo alcançar a premiação de um concurso, eu verifico quem conseguiu. E vejo em que aquela obra foi melhor do que a minha. Assim, vou tentando me aprimorar sempre. O recado, então, é esse: insista e acredite no que faz. No entanto, entenda que todos nós precisamos aprimorar cada vez mais o nosso trabalho. E sempre.

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Trecho do Primeiro Capítulo 👇👇

A intervenção sobrenatural dos “mortos” é uma crença que acompanha os seres humanos desde os primeiros tempos. É a base de muitas religiões, se não da religião mesmo. Fustel de Coulanges explica que nos tempos imemoriais, acreditava-se que os ancestrais mortos zelavam pelos seus descendentes, dando origem aos cultos domésticos e ao surgimento dos deuses nas culturas grega, romana e hindu.

Ainda hoje essa crença, revestida de aspectos emprestados de outras formas de religiosidade, como o catolicismo, encontra-se presente em nossa sociedade. A despeito de todos os avanços científicos e tecnológicos alcançados neste século XXI, ainda perdura entre muitos a crença de que aqueles que passaram para “a outra vida” continuam a interceder por nós.

São os “santos profanos” e “milagreiros” populares, sem a chancela de uma instituição formal, mas que arrebanham fiéis devotos por todos os cantos. Por santos profanos, entendem-se aqueles que não tiveram a canonização e reconhecimento da Igreja Católica, mas, também, a pessoas que tiveram uma morte violenta e, em alguns casos, tiveram uma vida socialmente marginalizada

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