ENTREVISTA MIAU - autor Isac Machado de Moura para Costelas Felinas Editora

 

Temos o prazer de apresentar uma conversa inédita com o autor miau Isac Machado de Moura, que já publicou conosco mais de 30 títulos. Nesta entrevista, mergulhamos em sua vasta experiência literária e exploramos a diversidade de estilos  que permeiam sua escrita. Uma oportunidade única para conhecermos mais sobre seu processo criativo. Não perca!


1) As mídias sociais desempenham um papel para você como autor?

Sim. Um papel muito importante, tanto na divulgação do meu trabalho, quanto nas vendas.  Aliás, vendo mais livros a partir das redes sociais que presencialmente.  Às vezes também uso as redes para perceber se determinado assunto interessa ou não a determinado público. Quando muita gente aparece me xingando nos comentários, então aquele assunto interessa.

2. Como você consegue adaptar sua escrita para estilos tão distintos como poesia, filosofia, crônicas e temas religiosos?

Na verdade, o meu estilo perpassa o gênero escolhido  ou o tema. Eu sempre tive muita dificuldade com o academiquês.  Tanta dificuldade que desisti de fazer o mestrado por isso. Eu odeio, com todos os meus ódios, o uso da língua como ostentação. Eu odeio aquela coisa de "eu sei e você não sabe". Então adotei uma linguagem que todos entendam sem precisar de um dicionário ao lado, ou sem pensar que sou um gênio, porque escrevo difícil. Não sou gênio. E quero ser entendido. Então tento escrever com leveza, independente do gênero textual ou da área de conhecimento.

3. O que mais lhe atrai em cada um desses estilos literários,  e como você decide qual explorar em um determinado momento?

Olha, juro que não sei te responder. Mas vou tentar.  Eu gosto muito da crônica política.  Me considero um escritor militante, engajado.  Ocorre que atuo em várias áreas e que fiz umas especializações. Aí misturo as coisas. Sou professor de literatura brasileira,  fiz teologia,  fiz psicanálise, sempre amei história.  Sobre decidir o estilo de cada momento,  tem muito a ver com o que que está acontecendo no país quando escrevo (assunto). E sobre o gênero, às vezes começo um texto sem saber se será um poema, uma crônica ou um ensaio.  Aí tomo essa decisão já com o texto em andamento. Outras vezes já começo sabendo o que quero. Ih, acho que sabia responder!

4. Algumas obras que publicou conosco foi em parceria com outros autores. Como é o seu processo criativo e colaborativo nessa hora? Como vocês conseguem harmonizar suas vozes e estilos distintos?


Na  verdade nem s
ão tão distintos assim. Não. Péra. Às vezes é. Ou não. Vamos a cada caso: a primeira parceria, dezenas de anos atrás, foi com Hélida Aparecida. Era uma militante e um militante em construção.  Tudo a ver. Depois, ainda fora da Costela Felinas, e depois dentro, com Demétrio Sena. Às vezes ele diz que diante do que escrevo, ele é um parnasiano. Eu sou completamente um modernista da geração de 22. Os modernistas da geração de 22 criticavam os parnasianos. Então tudo a ver. Mas eu não acho que ele seja parnasiano não. Só um pouquinho.  A Stephanie Zuma, também antes da Costelas, foi minha aluna do primeiro ano do Ensino Médio até o último período da faculdade de Teologia.  Uma revolucionária, rebelde. Tudo a ver. E o pastor/professor Raimundo Nonato, na mesma parceria,  naquele momento era um cabra muito crítico do mesmo sistema que criticávamos. O Antônio do Carmo é um petista "desde antes da fundação do mundo". Tudo a ver também. E por fim a Erli Porto.  Ela é uma escritora genial que não se sente escritora nem genial. Com ela a parceria foi motivada pela raiva de estar diante de uma pessoa assim que se achava no direito de não se publicar.  Acabei com esse direito. Ela foi publicada.

5. Existe um estilo literário que você considera mais desafiador de escrever? Em caso afirmativo, qual e por quê?

Sim, o romance. Esse gênero textual é tão desafiador pra mim, que não ouso tentar. Sou desses humanos que tem preguiça de se desafiar. Só escrevo o que me dá prazer ou para não enlouquecer.  Então me sinto completamente a vontade em todos os gêneros que escrevo.  Se vai me fazer sofrer, tô fora. O romance seria um sofrimento. Romance,  pra mim, é coisa de gênio e de pessoa muito centrada, com altos poderes de concentração.  Meus textos são rápidos.  Pareço um monge, mas não monjo.  Meu tempo de concentração é curto, preciso de intervalos, distrações. Meus textos precisam ser iniciados e concluídos numa tacada só.

6. Como sua visão de mundo influencia os temas religiosos em sua obra? Como você equilibra o aspecto espiritual com a análise crítica?

Eu não consigo ver o ser humano como um combo dissociável  de espiritual + material. Penso que somos uma coisa só. Mas tenho fé. Pouca, mas tenho. Nunca me submeti a um cérebro coletivo, sempre fiz questão de usar o meu, individual. Sempre defendi pensar fora da caixinha.  Sou de fé protestante e por mais de quatro décadas fiz parte de igrejas sem jamais abrir mão de minha criticidade. Claro que isso foi um problema. Mas sobrevivi. Hoje, nessa era pós-bolsonaro, estou desigrejado, já que a instituição igreja evangélica brasileira se rendeu a ele. Minha visão de mundo sempre foi na linha de "viver e deixar viver." Basicamente é isso que aparece em minha obra.

7. Pode compartilhar uma experiência ou lição marcante que surgiu de uma de suas colaborações com outros escritores?

Posso. Sempre que escritores interagem, surge alguma história legal. A escritora Rosana Silva, que vocês conhecem, é minha colega de escola pública, professora. Ela escrevia, mas resistia em se publicar.  Um dia perguntou se podia me mandar uns escritos seus para que eu analisasse sobre se cabia uma publicação ou não. Eu amei o que li. Eu já disse repetidas vezes pra ela que ela  é uma excelente narradora. Eu gosto muito de bons narradores. Então, AOS POUCOS, ela foi quebrando a resistência, as preocupações e se publicou.  Pronto. Nunca mais parou de publicar. Até já foi ganhadora do Prêmio Teixeira e Souza, lá da nossa cidade.  Acontecimentos assim não têm preço.

8. Na sua opinião,  o que a poesia oferece ao leitor que os outros gêneros literários não conseguem proporcionar?

Penso que cada público, cada leitor, se identifica mais com um gênero específico. Tem leitor, por exemplo, que não gosta de poesia. Mas penso que a poesia tem mesmo algo de muito especial: um tcham,  um borogodó, uma parada sinistra.  A poesia sensibiliza,  propõe uma reflexão, quando crítica; provoca uma imersão em sentimentos,  em memórias, quando lírica.  E não é o meu caso, mas aquelas e aqueles poetas que fazem aquela declamação,  aquela performance,  são mesmo geniais e mexem mesmo com as pessoas.  Acho fantástico.

9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?

Ah sim, já. Foi quando perdi minha menina. Eu tinha 27 anos e ia ser pai. Estávamos muito felizes. Era uma gestação muito esperada.  No sexto mês, a Ana Paula teve um problema inesperado,  não diagnosticável preventivamente e perdemos nossa menina. Fiquei quase dois anos sem conseguir produzir uma única linha. Eu queria colocar toda aquela dor pra fora em forma de palavras escritas. Nada saía. Até que um dia aconteceu algo parecido com um cano bloqueado que se desentope  e eu escrevi.  Fiz um livreto sobre e para a Nathalia. Foi uma cura. Dois anos depois chegou o Matheus, numa gestação extra-uterina, daquelas de coração. Então tudo voltou à sua normalidade. Foi o último bloqueio que tive. É sinistro.

10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?

Fuja de editores que querem interferir em sua produção;  fuja dos 10% das editoras;  mas se essas duas coisas são importantes pra você, então não fuja. Desista de tudo que incomoda. Desistir é sempre uma opção a considerar. Só não desista de publicar por medo das reações das pessoas. Umas vão gostar do que você escreve, outras não. A vida é todinha sobre isso. Só escreva. E se publique, da forma que for importante pra você. Pra mim, o ser independente é o mais importante.


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