ENTREVISTA MIAU - autor Isac Machado de Moura para Costelas Felinas Editora
1) As mídias
sociais desempenham um papel para você
Sim. Um papel muito
importante, tanto na divulgação do meu trabalho, quanto nas
2. Como você consegue adaptar
sua escrita para estilos tão distintos como poesia, filosofia, crônicas e temas
religiosos?
Na verdade, o meu
estilo perpassa o gênero escolhido ou o tema. Eu sempre tive muita dificuldade
com o academiquês.
3. O que mais lhe atrai em cada um desses estilos literários, e como você decide
qual explorar em um determinado momento?
Olha, juro que não sei te responder. Mas vou tentar. Eu gosto muito da crônica política. Me
considero um escritor militante, engajado.
Ocorre que atuo em várias áreas e
que fiz umas especializações. Aí misturo as coisas. Sou professor de literatura
brasileira, fiz teologia, fiz psicanálise,
sempre amei história. Sobre decidir o
estilo de cada momento, tem muito a ver
com o que que está acontecendo no país quando escrevo (assunto). E sobre o gênero, às vezes começo um texto sem saber se será um poema, uma crônica ou
um ensaio. Aí tomo essa decisão já com o
texto em andamento. Outras vezes já começo sabendo o que quero. Ih, acho que sabia responder!
4. Algumas obras que publicou conosco foi em parceria com outros
autores. Como é o seu processo
criativo e colaborativo nessa hora? Como vocês conseguem harmonizar suas vozes
e estilos distintos?
Na verdade nem são tão distintos assim. Não. Péra. Às vezes é. Ou não. Vamos a cada caso: a primeira parceria, dezenas de anos atrás, foi com Hélida Aparecida. Era uma militante e um militante em construção. Tudo a ver. Depois, ainda fora da Costela Felinas, e depois dentro, com Demétrio Sena. Às vezes ele diz que diante do que escrevo, ele é um parnasiano. Eu sou completamente um modernista da geração de 22. Os modernistas da geração de 22 criticavam os parnasianos. Então tudo a ver. Mas eu não acho que ele seja parnasiano não. Só um pouquinho. A Stephanie Zuma, também antes da Costelas, foi minha aluna do primeiro ano do Ensino Médio até o último período da faculdade de Teologia. Uma revolucionária, rebelde. Tudo a ver. E o pastor/professor Raimundo Nonato, na mesma parceria, naquele momento era um cabra muito crítico do mesmo sistema que criticávamos. O Antônio do Carmo é um petista "desde antes da fundação do mundo". Tudo a ver também. E por fim a Erli Porto. Ela é uma escritora genial que não se sente escritora nem genial. Com ela a parceria foi motivada pela raiva de estar diante de uma pessoa assim que se achava no direito de não se publicar. Acabei com esse direito. Ela foi publicada.
5. Existe um estilo literário que você considera mais desafiador de
escrever? Em caso afirmativo, qual e por quê?
Sim, o romance.
Esse gênero textual é tão desafiador pra mim, que não ouso
tentar. Sou desses humanos que tem preguiça de se
desafiar. Só escrevo o que me dá prazer ou para não
enlouquecer. Então me sinto completamente a vontade em todos os gêneros que escrevo. Se
vai me fazer sofrer, tô fora. O romance
seria um sofrimento. Romance, pra mim, é coisa de gênio e de pessoa
muito centrada, com altos poderes de concentração. Meus textos são
rápidos. Pareço um monge, mas não monjo.
Meu tempo de concentração é curto,
preciso de intervalos, distrações. Meus textos
precisam ser iniciados e concluídos numa tacada só.
6. Como sua visão de mundo
influencia os temas religiosos em sua obra? Como você equilibra o aspecto espiritual com a análise crítica?
Eu não consigo ver o ser humano
7. Pode compartilhar uma experiência ou lição marcante que surgiu de uma de suas
colaborações com outros
escritores?
Posso. Sempre que
escritores interagem, surge alguma história legal. A escritora Rosana Silva,
que vocês conhecem, é minha
colega de escola pública, professora.
Ela escrevia, mas resistia em se publicar.
Um dia perguntou se podia me mandar uns escritos seus para que eu
analisasse sobre se cabia uma publicação ou não. Eu amei o que li. Eu já disse repetidas vezes pra ela que
ela é uma
excelente narradora. Eu gosto muito de bons narradores. Então, AOS POUCOS, ela foi quebrando a resistência, as preocupações e se publicou.
Pronto. Nunca mais parou de publicar. Até já foi ganhadora do Prêmio
Teixeira e Souza, lá da nossa cidade.
Acontecimentos assim não têm preço.
8. Na sua opinião, o que a poesia oferece ao leitor que os
outros gêneros literários não conseguem
proporcionar?
Penso que cada público, cada leitor, se identifica mais com um gênero específico. Tem leitor, por exemplo, que não gosta de poesia. Mas penso que a poesia tem mesmo algo de
muito especial: um tcham, um borogodó, uma parada sinistra.
A poesia sensibiliza, propõe uma
reflexão, quando crítica; provoca uma imersão em sentimentos, em
memórias, quando lírica. E não é o meu caso, mas aquelas e aqueles poetas que fazem aquela
declamação, aquela performance, são mesmo
geniais e mexem mesmo com as pessoas.
Acho fantástico.
9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?
Ah sim, já. Foi quando perdi minha menina. Eu tinha 27 anos e ia ser
pai. Estávamos muito felizes. Era uma gestação muito
esperada. No sexto mês, a Ana Paula teve um problema inesperado, não
diagnosticável preventivamente e perdemos nossa
menina. Fiquei quase dois anos sem conseguir produzir uma única linha. Eu queria colocar toda aquela dor
pra fora em forma de palavras escritas. Nada saía. Até que um dia aconteceu algo parecido com um cano bloqueado que
se desentope e eu escrevi. Fiz um livreto sobre e para a Nathalia. Foi
uma cura. Dois anos depois chegou o Matheus, numa gestação extra-uterina, daquelas de coração. Então tudo voltou à sua normalidade. Foi o último bloqueio
que tive. É sinistro.
10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?
Fuja de editores que querem interferir em sua produção; fuja dos 10% das editoras; mas se essas duas coisas são importantes pra você, então não fuja. Desista de tudo que incomoda. Desistir é sempre uma opção a considerar. Só não desista de publicar por medo das reações das pessoas. Umas vão gostar do que você escreve, outras não. A vida é todinha sobre isso. Só escreva. E se publique, da forma que for importante pra você. Pra mim, o ser independente é o mais importante.