Costelas Felinas entrevista o autor miau Demétrio Sena
1. As mídias sociais desempenham um papel para você como autor?
R. Com certeza. Elas me ajudam a divulgar meu trabalho, de forma fantástica. O advento das redes sociais é o que faltava para quem trabalha com o público, de forma geral.
2. A obra passou por alguma mudança significativa desde o primeiro rascunho?
R. Pouca coisa. Sou de imaginar princípio, meio e fim, antes da concepção da obra. As correções foram todas de erros de digitação.
3. Qual foi a inspiração inicial para a criação de Trem do Tempo; e como você espera que os leitores se sintam após a leitura?
R. A inspiração sempre é o mundo que me cerca, seja em casa, no trabalho, na pouca vida social que tenho. O ser humano, incluindo a mim mesmo. Espero que os leitores se sintam prontos a refletir e tenham a sensação de que a leitura compensou.
4. Como você define o amor verdadeiro e por que acredita que ele deve libertar
em vez de aprisionar?
R. O amor verdadeiro, para mim, é aquele que pode ser percebido além das palavras. E que tenha gestos e ações naturais, não como provas concedidas ou solicitadas.
5. Quais são as principais formas de hipocrisia que você procura prevenir
através de sua poética?
R. Tenho como o combo irrefutável da hipocrisia, as hipocrisias classistas, políticas e, principalmente, religiosa, que de certa forma, rege todas as outras formas de hipocrisia.
6. Escrever uma obra é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?
R. Só fascinante. Nunca exaustivo. Se não há prazer quando escrevo algo, paro de escrever.
7. Em seus versos, como você diferencia a paixão intensa e momentânea do amor sincero e duradouro?
R. Eu uno os dois. A paixão intensa é o início de algo que pode ou não durar. O amor. E o amor não deve perder a paixão, que pode ser revista ou reformada, nas demandas do tempo, mas não extinta.
8. Como a metáfora do “canto de sereia que salva” surgiu em sua poesia e o que ela simboliza para você?
R. O canto da sereia é algo que sempre ouvi. Ele me arrastou para a poesia e para minha paixão por tudo o que faço: literatura, fotografia, origami, recitações...
9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?
R. Desde que comecei a escrever, nunca tive bloqueios. A inspiração parece vir da caneta ou outro dispositivo pelo qual escrevo. O mundo se acumula com suas demandas, em minha alma, e quando meus dedos tocam algo para escrever, ele se derrama em forma de inspiração. Ou seja, minha inspiração é prévia. É um depósito.
10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?
R. É a mesma que tenho para mim: Literatura não é profissão. Pode até ser meio de vida, mas não profissão. O escritor nato pode até alcançar seus resultados práticos, econômicos, mas aquele escritor (ou artista) que já não tem como resultado o próprio fazer, não o é de fato.
Poemas do TREM DO TEMPO
AMOR QUE
MATA
Um amor
extremado que sangra num corte
cuja dor
não se mede, como nada explica,
é a morte
que vibra na concha das mãos
onde
pulsam as veias do sistema inteiro...
Desencanto
com cara desse tanto faz,
porque
tenho que ter esta força que sobra,
que me
cobra não ser um cobrador do quanto
já doei
de meu corpo, minha'lma e meu eu...
Mas ainda
preciso arrastar a carcaça,
pra
cumprir a missão que jamais cumprirei,
pela
graça ou a lei deste amor abismal...
Se
pudesse partir, se pudesse poder,
conseguisse
querer o que no fundo quero,
eu seria
sincero e desembarcaria...
PRECISO
DORMIR
Só desejo
acordar em outro mundo
e não ter
nostalgias deste aqui,
nem no
fundo insondável de minha'lma
ou nas
sombras do meu inconsciente...
Eu queria
voar durante o sono,
mas num
sonho real definitivo;
num
outono suave, um vento brando,
entre
folhas voláteis e macias...
Quero
tanto encontrar a dimensão
que já
vive na tela dos meus olhos,
tem o meu
coração pulsando lá...
E preciso
dormir pra tantas dores;
tantas
cores que o tempo esmaeceu
na
falência das minhas emoções...