ENTREVISTA MIAU - autor Anderson Braga Horta para Costelas Felinas Editora
Não perca a entrevista exclusiva com o grande poeta Anderson Braga Horta! Uma conversa imperdível sobre a obra "Versos em Três tempos", lançada pela Costelas Felinas Editora. O autor fala de suas inspirações e a magia da poesia ao elaborar o livro com a presença poética de seus pais. A entrefala também traz assuntos como mídias sociais e filosofia.
1. As mídias sociais desempenham um papel para você como autor?
R: Sim, mas quase tão só na medida em que participo de reuniões, lives, entrevistas etc. no plano virtual.
R: Não. Selecionei alguns poemas de meu pai e de minha mãe, peguei alguns meus até então inéditos em livro, botei um título, e praticamente resolvida ficou a questão.
R: A emoção é uma das matérias-primas de que se faz o poema. A técnica é o modus faciendi. De certa forma a técnica se confunde com a arte do poema. A emoção, desassistida dessa técnica/arte, é insuficiente para constituir o poema. Por outro lado, há poetas que se declaram infensos a ela e afirmam escrever sem o seu lastro. Não estou entre esses.
R: Depende do contexto. Nos narrativos, nos teatrais e em textos dialógicos em que intervém a voz do povo, o coloquial (rústico ou urbano) tem vez, ou até se impõe. Nos artigos, ensaios, textos filosóficos e quejandos, cabe o elevado, mesmo o erudito, devendo primar a concisão, a precisão, a clareza. No poema se emprega, salvo objetivos ou finalidades específicos, a linguagem dita literária, com as diferenças constitutivas entre o prosístico e o versífico, e com as variações estilísticas entre as escolas. De um modo geral, tenho ponderado que ao escritor compete extrair do potencial de sua língua toda a cintilação que possa, dignificando-a sempre.
5. Como foi organizar a obra Versos em Três Tempos e revisitar a poética de seus pais?
6. Escrever uma obra é um ato fascinante, exaustivo ou os dois?
R: Para mim, escrever é simultaneamente fascinante e trabalhoso. Pode chegar a exaustivo, conforme exija pesquisas, reescrituras ou atividades afins.
7. Qual é a importância da poesia em relação às questões filosóficas e sociais?
R: Poesia é uma coisa: filosofia, outra; as questões sociais, ainda outra. Não obstante, o poema pode mergulhar em questões filosóficas, como o perquirir das profundidades do eu ou dos mistérios do ser, da vida e da morte — o que chega às vezes a lhe parecer congenial; e pode, como repetidamente o faz em nossos tempos, engajar-se até o cerne em problemas sociais, qual o fizeram, exemplifico, um Castro Alves, em “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África”, um Vinicius de Moraes, em “O Operário em Construção”, para não falar num dos mais notórios frequentadores do tema, o Drummond de diversas composições, ou num João Cabral, ou no mais recente Ferreira Gullar. Permaneço fiel ao que disse num soneto que incluí em Cronoscópio (“Multímoda”): “Tudo cabe no poema”, sob a condição de que seja preservada a sua essência de “emoção transfigurada em timbres de beleza”. Não o observar é correr o risco de decair do poema, ainda que o texto produzido mereça a classificação de bom.
8. O que os leitores encontrarão na obra Versos em Três Tempos?
R: Encontrarão versos medidos e versos livres; poemas tradicionais e poemas modernos; tudo e nada; sonho, visões, vida, morte, esperança, amor, tempo, natureza, sofrimento, medo, tédio, poesia, infância, oração, universo; pai, mãe e filho.
9. Você já experimentou o bloqueio do autor? Como você superou isso?
R: Se não vem a inspiração, se não há o tesão de escrever, temos um bloqueio, e já o experimentei, sim. Como lutar contra isso? Com o apelo à excitação do espírito por meio da leitura, ou da música... ou com um tanto de paciência.
10. Qual sua frase de incentivo para os autores iniciantes?
R: Ler muito, ler de tudo, se quiser, mas pondo empenho em conhecer os autores consabidamente bons, desta ou daquela tendência, de ontem e de hoje. E escrever, e reescrever, e reescrever.
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Alguns poemas que compõem o livro
QUE
estás cortando alguma coisa
com displicente energia
faca incruenta
não consegues a vítima
embora insistam gumes
Talvez provoques te atingir
centauro ou pégaso
pois contra ti mesmo cavalgas
ou teus líquidos contornos
tenta-os voar impossível.
Anderson Araújo Horta
EXORTAÇÃO
Alma inquieta e sem rumo, sem morada
dentro do próprio ser, que te acontece?
Para onde vais? Que buscarás na estrada
onde o esplendor do sol desaparece?
Que desejas colher nessa encantada
terra de sonhos? Que dourada messe
supões haver na senda extraviada
onde nem mesmo o sonho permanece?
Olha em torno de ti. Volta e procura
em ti mesma o caminho da ventura
que andas buscando sem saber se existe...
Encontrando-te, enfim, terás a glória
de tornar a existência transitória
mais serena, mais terna, e menos triste.
Maria Braga Horta
ALÉM DA GUERRA
A alma do ser humano às águas se parece.
Do céu vem, ao céu torna e sucessivamente,
no ciclo misterioso, interminável, desce
para alçar-se de novo a um céu indiferente.
Vem do seio de um deus? ao mesmo deus retorna
que uma têmpera, assim, vai-lhe aos poucos forjando?
Mergulha, a arder, do espaço e aos astros, enfim, morna,
quase extinta, devolve um anélito brando?
Ao fim do áspero ciclo –acaso um fim houvesse–
que matéria haverá para habitar a Terra,
que anelo restará para o amor, para a prece?
Ah! quer o coração que para além do pranto
e para além do riso, além da estrênua guerra,
ascenda de seu imo, eternamente, um canto!
Anderson Braga Horta
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